A maravilhosa cidade
A cara escamoteada e cavada em buracos de água azul, pintado com hidrocor pisoteado, sustenta esse e outros bolos de carne e ossos; de argamassa e tijolos também.
Serpenteando pelos intestinos da cidade, brecando em rompantes de tolices, os prédios perdem os dentes, os olhos se quebram em estilhaços de abandono, as aftas de pessoas nas bocas espalhadas em barracos é tudo o que aquele órgão caga por baixo dos lençóis de seda das coberturas de mato prostituído, de mato ferido, de mato aplaudido e desenfreado.
E nas praias estão as bundas, as curvas acentuadas, as curvas acidentadas, a grama aparada logo ali, defronte as águas lambidas e banhadas, filmadas e gravadas em sol, areia, bronzeador e água de coco gelada e cristalina. Bundas que sentam, bundas que desfilam e que sambam e respiram e cantam.
Mas naquele rosto de senhora passada, de carne seca que ficou no sol e perdeu a elasticidade – ali as espinhas são espremidas. O pus voa, o sangue escorre e lava a maquiagem, da cor da pele, pra tapar os furos de uma cidade plástica que já não consegue mais respirar.
Nem mesmo por aparelhos.
Autor: Pedro Porciúncula/Inspira
Foto: Pixabay