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Secretário de Meio Ambiente defende a sustentabilidade dos Botos da Lagoa dos Patos em Comitê Científico Internacional

O secretário de Meio Ambiente, Pedro Fruet, foi um dos brasileiros convidados a participar da 69ª Reunião do Comitê Científico da Comissão Baleeira Internacional (CBI). O encontro, que aconteceu na cidade de Bled, na Eslovênia, entre os dias 24 de abril e 7 de maio, teve a participação de dezenas de representantes que compõem a Comissão, incluindo gestores, pesquisadores e cientistas do mundo todo.

A CBI é uma organização criada em 1946 para regular a caça de baleias no mundo, tendo 88 países membros que se reúnem regularmente para discutir e definir questões relacionadas à conservação e manejo das populações de baleias.

Durante a reunião, o secretário, que recentemente foi reconhecido internacionalmente pela fundação inglesa Whitley Found for Nature por seu trabalho na área, teve como foco quatro espécies prioritárias na agenda nacional: a baleia-franca, a toninha, o boto-cinza e o boto-de-Lahille.

“Estas espécies vivem em águas rasas próximas à costa brasileira e sofrem impactos decorrentes de atividades humanas para exploração e uso dos oceanos, tendo um certo grau de ameaça mais elevado do que para outras. Por isso elas têm sido foco de discussões sobre estratégias para monitoramento e mitigação dos impactos”, afirma.

A respeito do tema, o secretário realizou apresentação sobre botos-de-Lahille , recentemente reconhecidos como Patrimônio Cultural Natural da Cidade do Rio Grande, por meio da Lei Nº 8820 de 8 de junho de 2022. Atualmente estima-se que não existam mais de 600 indivíduos em todo mundo, sendo que a maior parte da população conhecida reside no estuário da Lagoa dos Patos e águas costeiras próximas, com aproximadamente 90 animais.

“Trouxemos para o debate dois documentos técnicos de altíssima relevância para a questão da sustentabilidade em nossa região, que almeja ser referência na Economia Azul. Mostramos que as projeções não são boas para o futuro da espécie caso as condições ambientais e impactos se mantenham como estão hoje ou venham a piorar”, comenta.

Ele também salientou que é muito provável que o risco de extinção da espécie seja elevado para a categoria de “Criticamente Ameaçado” durante a próxima avaliação de risco de espécies ameaçadas do Brasil, que deverá ser realizada ainda este ano pelo ICMBio.

“Isto se deve especialmente ao reduzido número de animais que restam na natureza e aos impactos os animais vêm enfrentando, como a contaminação e as capturas incidentais em redes de pesca ilegal. Por isso levamos ao comitê a necessidade de melhorar a fiscalização contra a pesca ilegal, especialmente no estuário da Lagoa dos Patos e a costa marinha, que é uma área fundamental para os botos e para o desenvolvimento de muitas espécies de peixes de interesse comercial, especialmente para a pesca artesanal”.

Apoio do Governo Federal

O secretário também destaca que houve um excelente diálogo com o Governo Federal durante a reunião, que esteve representado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), o Ministério do Meio Ambiente e o Ministério de Relações Exteriores (MRE), órgãos que se mostraram preocupados com as discussões. “Estão cientes dos problemas que devemos enfrentar e sinalizaram que tratarão as ações de conservação das espécies dentro de suas agendas”, salienta.

Sobre a CBI

Embora seja conhecida principalmente por suas ações em relação à caça comercial de grandes baleias, a Comissão também trabalha para a sustentabilidade dos pequenos cetáceos, dedicando-se a avaliar o estado de conservação das populações de botos e golfinhos em todo o mundo.

Com base nessa avaliação, o Comitê faz recomendações aos governos de seus países membros no intuito de auxiliar na busca da gestão e a conservação destes animais e seus habitats. Por isso, o encontro transcende a biologia da conservação, contemplando também fatos políticos, sociais e econômicos a nível global.

Workshop sobre golfinhos na Alemanha

Após a reunião da CBI, Fruet também participou de um workshop sobre medidas de mitigação de capturas incidentais de golfinhos em redes de pesca. O evento aconteceu no Zoológico de Nuremberg, na Alemanha.

Na oportunidade o secretário retomou a pauta dos botos do Rio Grande, elencando as dificuldades, avanços e as abordagens que vêm sendo utilizadas para a redução da mortalidade da espécie nas pescarias costeiras. “Foi muito gratificante ter participado desta reunião, que discutiu soluções práticas para redução de mortalidade de golfinhos em redes de pesca, que é um problema global e discutido a décadas, mas que pouco avança no mundo”, destaca.

No evento, que teve presença de pequeno grupo de especialistas altamente qualificados, foram apresentados casos de sucesso, como o do Mar Báltico, onde foi utilizado um novo tipo de dispositivo acústico que emite sinais de comunicação dos golfinhos. Além deste, foram também abordados outros estudos e alternativas de baixo custo desenvolvidas na Alemanha e no Brasil.

“É importante apoiar estas iniciativas e trabalhar em conjunto com comunidade e diferentes setores. Precisamos ter governança, a comunidade como parceira e entender as necessidades e alternativas, fazendo uso da tecnologia para testar opões e ser justo nas decisões. O foco tem que ser na mitigação dos impactos, na sustentabilidade, para permitirmos o desenvolvimento econômico e social sem comprometermos a nossa biodiversidade, seus habitats e os serviços ecossistêmicos que deverão garantir boas condições de vida para as futuras gerações”, complementa.

Os botos-de-Lahille (Tursiops gephyreus) – Patrimônio Cultural Natural da Cidade do Rio Grande

Os animais recebem este nome como uma referência ao pesquisador que descreveu a espécie pela primeira vez, em 1908. Eles podem viver até 50 anos, medir até 4m e pesar até 500kg. Os machos adultos são ligeiramente maiores e as fêmeas têm um período gestacional de cerca de 12 meses e realizam um cuidado parental com seus filhotes até, no mínimo, dois ou três anos.

Possuem um período reprodutivo bem marcado, que ocorre nos meses quentes, entre novembro e março. Se alimentam de diversas espécies de peixes, como tainha, corvina, papa-terra, entre outros.

Os botos-de-Lahille tem uma distribuição restrita ao oceano Atlântico Sul Ocidental, exclusivamente nas zonas costeiras, muitas vezes associados à desembocadura de rios e estuários. Sua distribuição começa no norte de Santa Catarina, passa pelo Rio Grande do Sul e Uruguai, até chegar na Baía de San Antonio, na Argentina.

Estima-se que, no total, não existam mais de 600 botos-de-Lahille. A maior população conhecida é a que reside no estuário da Lagoa dos Patos e águas costeiras adjacentes, com aproximadamente 90 animais. A segunda maior ocorre em Laguna, onde existem cerca de 60 animais. Além dessas, existem pequenas concentrações em locais como Itajaí, Baía Norte em Florianópolis, Torres, Tramandaí, La Coronilla e Baía San Antonio, além de possíveis populações em outras costas.

Desde 2019, a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) classificou o boto-de-Lahille como listada como Em Perigo na lista nacional de espécies ameaçadas de extinção. (VU) à ameaça de extinção. No Brasil, a espécie é considerada como “Em Perigo” na lista nacional de espécies ameaçadas de extinção.

A existência de poucos indivíduos e sua distribuição restrita e muito próxima das regiões costeiras, faz com que a espécie sofra muito com as crescentes intervenções humanas. Isso quer dizer que, se não forem protegidos, é possível que, em um futuro não muito distante, eles possam deixar de existir.

Assessoria de Comunicação Social Prefeitura Municipal do Rio Grande

Foto: Divulgação

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