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Mercado Público do Rio Grande é cenário de manifestação dos povos de terreiros

Uma atividade proposta pelo Conselho dos Povos de Terreiros integrou a programação de sábado (19) à tarde, na Semana do Patrimônio do município do Rio Grande. O evento foi no Mercado Público, ponto turístico, histórico e de grande referência para as religiões de matriz africana, e reuniu em uma roda de conversa lideranças religiosas, de governo e entidades representativas do povo negro rio-grandino.

Além da roda de conversa, quem percorreu o Mercado Público teve como opção adquirir produtos na Feira de Artesanato Afro e degustar comidas típicas da gastronomia africana. Para o início do evento houve o tradicional toque dos tambores e rezas e a chegada dos Orixás.

Várias manifestações se seguiram após a abertura. Uma delas foi do conselheiro e representante da Secretaria de Município da Cultura, Esporte e Lazer (SMCEL), Cássio Pinheiro. Ele afirmou que “Rio Grande é negra e isso não é valorizado nem reconhecido”. De acordo com Cássio, a cidade foi construída por mãos escravizadas do povo trazido do continente africano que “aqui deixaram suas marcas, também, na religião, com o Batuque, a Umbanda e o Candomblé”. Por isso, ele considera importante a valorização do patrimônio imaterial.

O conselheiro ressaltou, ainda, a importância do próprio Mercado Público para o município, “local onde tudo começou” e que carrega muita história em termos de cultura, religiosidade e gastronomia.

Ocupar espaços

Já a coordenadora municipal das Políticas de Promoção da Igualdade Racial em Rio Grande, Ingrid Costa prestigiou o ato em nome do Executivo. Em manifestação, abordou o tema racismo e disse que falar desse assunto demanda muita energia do próprio povo negro.

“Estamos aqui, pretos e não-pretos, para tentar construir uma relação com melhores vivências e experiências uns com os outros. Não importa a cor que temos, embora ainda tenhamos que lembrar disso”, comentou referindo-se ao racismo.

No ponto central do Mercado Público, onde se localiza a encruzilhada do Bará, Ingrid afirmou que “precisamos ocupar os espaços”. E mais, “que bom que estamos aqui (no Mercado Público) tomando posse daquilo que é nosso”.

Por fim, o presidente do Conselho dos Povos de Terreiros, Chendler Siqueira afirmou que o Mercado Público tem um significado ímpar não só para os povos de matriz africana como para toda a sociedade rio-grandina. Citou que 80% dos negros e negras que chegaram na cidade do Rio Grande, no período escravocrata, entraram pelo Mercado Público, onde encostavam os navios.

“Com a vinda desses corpos escravizados veio toda a cultura e sabedoria, toda uma visão de mundo dos povos e comunidades tradicionais que existem até hoje”, recordou. O presidente do Conselho considera que não foram só os prédios erguidos pelas mãos de pessoas escravizadas da África. “Eles construíram, também, a cultura local.” Além da construção arquitetônica, Chendler diz que se trata de uma construção sócio-cultural, cuja contribuição precisa ser reconhecida pelo município como afro-lusitana e não apenas lusitana.

O presidente avalia compor, pela primeira vez, a programação da Semana do Patrimônio é uma forma de resgatar a dignidade e a importância da contribuição dos povos de matriz africana para a formação da cidade e do Rio Grande do Sul.

Assessoria de Comunicação Social Prefeitura Municipal do Rio Grande

Foto: Divulgação

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