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Educandário

O professor pega a maleta antes de sair de casa. O discurso está preparado; a aula seria apenas uma introdução ao curso anual. Terno engomado, ajustado ao corpo. Café. Pingo de café no terno, não há tempo de desternar. Carro, aceleração mais ou menos controlada. Universidade, bom dia, chave na fechadura, abrir as janelas (calor). Alunos sentados, como que esperando. Odiava a espera.

“No primeiro módulo desse curso, aprenderemos a retorcer a saudade em rio. Para tal, peço que todos tomem nota de todas as informações que da minha boca jorrarão; há um seminário mandatório ao final.

Logo em seguida, há um módulo dedicado à Teoria do Namoro, com todas as suas fases: Recolhimento de Cacos I, Introdução aos Flertes de Agulha, Audácia do Primeiro Pedido e Resistência da Eternidade e do Fim. O material de apoio será, em breve, disponibilizado.

A parte prática vem ao final. Não darei instrução alguma, apenas auxílio com hora marcada. Um relatório pessoal deverá ser entregue ao final, grampeado. Folhas soltas não serão aceitas.”

Discurso finalizado (aula, não. Ninguém dá aula de amor). Todos saem cabisbaixos (muita coisa a estudar! Sinto que não sei nada!). Passos e silêncio. Passos e não-passos. Sorriso ignoto na boca do professor (que, há anos, jurava não lecionar).

Gostava do que não fazia sentido. Gostava do descabido. E, acima de tudo, nutria pelos alunos afeição tamanha. A cada novo semestre, ele se sentia cada vez mais próximo da sua Educação.

Porque amor não se aprende sem Curso.

Autor: Eduardo Moll/Inspira

Foto: Pixabay

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