É que tu não tens cabimento
…e antes que me venhas com desculpas ou promessas, coloca-te no meu lugar e contempla o buraco que vejo daqui de onde me posto, tal tu fosses eu, tal respirasses como respiro, tal sentisses o desconforto na boca do estômago que agora seguro dentro.
…e antes que tu te interrompas na minha fala, permita-me berrar-te meu descontentamento com a tua grandeza, como fosses tu o meu chão o meu ar a minha epi-derme, que pouco me reveste. Maior do que tu, desconheço. A tua presença robusta me toma me in-forma me em-forma ao ponto de eu ficar silabando pico-tando as palavras para que, aos poucos, nelas caibas tu, sem vírgulas.
…pois que em silêncio de letra nunca coubeste: eu te gritava;
…pois que em vírgula não te continhas: eu te gritava;
…pois que em todo o meu mundo não me eras: eu te gritava.
…pois que, mesmo assim, eras maior do que eu: grandioso, eloquente, acabado.
…pois que eu sempre te admirei em excesso(s).
É que tu não tens cabimento.
Autor: Eduardo Moll/Inspira
Foto: Pixabay