Editorial

Para nascer a mãe é preciso morrer a mulher?

Essa semana, em minhas andanças cotidianas, deparei-me com duas cenas, no mesmo dia, que me fez refletir: “Para nascer a mãe é realmente necessário morrer a mulher?” Vou explicar para ficar mais claro.

Primeiro, estava eu em uma loja, bem conhecida da cidade, onde tem produtos de diversos seguimentos. Sabe aquele lugar onde você encontra tudo que precisa para qualquer coisa? Pois é esse mesmo! Eu procurava um material elétrico e logo que achei fui conferir as novidades em utensílios de cozinha (área que gosto muito). Estava eu lá, na minha, sem ofender ninguém, quando de repente ouço um rapaz perguntar a outro. “Cara o que tu quer nessa loja de velho?” E quando eu pensei que não podia piorar veio a resposta: “Tenho que comprar um presente pra coroa de dia das mães, daí pensei em dar uma xícara ou chaleira porque ela gosta de chá. Ela já tem, mas…” Juro pra vocês que nesse momento tive uma experiência extra corpórea e me vi com aquela chaleira na mão gritando “É SERIO QUE A MULHER PASSOU NOVE MESES CONTIGO NA BARRIGA PARA TE DAR A VIDA E TU VAI DAR UMA CHALEIRA PARA ELA?!” Respirei e achei melhor não fazer até porque a loja tem aquela política do “Quebrou, Pagou” e certamente iria sobrar pouco da chaleira.

Não bastando isso, segui rumo a outros compromissos e na volta para casa duas jovens estavam sentadas no banco da minha frente no ônibus, olhando aquelas revistinhas de catálogo, quando uma delas mostra uma página para a outra e dispara: “Antes de ganhar o Henrique eu até usava esse tipo de maquiagem, mas agora não dá mais pra mim. Sou mãe!” E a outra complementa: “Te entendo amiga! Eu não compro uma roupa pra mim desde que a Júlia nasceu. São dois anos sem comprar nada. Não são mais para mim essas roupas mais modernas.” (Detalhe: Ambas aparentavam ter entre 18 e 25 anos).

Por isso pergunto a vocês: Para nascer a mãe é preciso morrer a mulher?

Em uma época que se fala de empoderamento feminino mães e mulheres são tratadas como diferentes. É inexplicável que uma mulher deixe de vestir aquilo que gosta, que faz sentir-se mulher, porque virou mãe. Baixa estima e estresse. Pode ser a desculpa, mas a resposta real é a culpa que nós namorados, maridos, pais, mães, irmãos, irmãs, filhos e filhas, enfim todos nós, que damos chaleiras e xícaras nos Dia das Mães.

Por isso, no próximo domingo não dê lembrancinha, dê uma maquiagem, uma lingerie (ou vale compra se ficar com vergonha de dar uma lingerie para sua mãe), um vinho ou bebida que ela goste. Enfim, saia da mesmice, surpreenda e lembre-se: Antes de ser mãe ela é mulher.

Rapha Rickes – Equipe Rio Grande TEM

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