Nascedouro
Ficou mais forte no dia em que aceitei que a gravidade é um placebo. Nada abaixo, nada acima, preso a forças que desconheço, comprometido com uma vida que é um imenso tanto faz. Ficou mais forte e eu sucumbí, num deboísmo manso e existencialista. O que não o é?
Sabe-se que o universo se expandirá até terminar em um imenso vazio gelado. O estágio atual de sua expansão é um bebê posicionado no nascedouro; nem a luz ele viu. Nem chorar ele chorou. E ficou mais forte a minha coisa…
De sátiro, olhei para o céu verde-água e ri, de faceiro mesmo, não de desespero. Pois estava livre de tudo, até do chão embaixo de minha solas. Que maravilha a minha coisa. Tudo que se fez, que se faz, que fará, tanto faz, sem conjugar o “fazer”, já que não faz mais sentido.
Este querido vazio que me revela minha desimportância é o Deus supremo: tua vida pouco importa, apenas escolha a Vontade.
Beba, coma, faça, não faça, ame, isole-se. O que te afundar a moleira. Faz o que tu queres, é o todo da lei. E a lei é…
Bem…
Com toda essa liberdade, escolhi viver a vida de sempre. O universo que se expanda. Eu que me resolva. Tenho que ir lá buscar as crianças. E aquela torneira não para de pingar…
Autor: Rody Cáceres/Inspira
Foto: Pixabay