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Estudo apresenta alertas para os efeitos da pandemia na saúde mental

A partir de experiências que o mundo já viveu em outras pandemias ou grandes desastres, um estudo que reúne os primeiros dados disponíveis sobre o total de internações por transtornos mentais no Rio Grande do Sul desde a chegada do novo coronavírus apresenta uma série de alertas sobre os efeitos da Covid-19 também na saúde mental da população.

Desenvolvida no âmbito do Comitê de Dados do governo do Estado, a pesquisa elenca, com base em artigos científicos analisados, as principais iniciativas que devem ser adotadas em situações de emergência e identifica ao menos cinco grupos de pessoas entre os de maior risco de serem afetados em relação à saúde mental. As maiores prevalências de transtornos comuns foram identificadas entre os professores (média de 36,9%) e profissionais da saúde (27,7%).

As pessoas que apresentam transtornos mentais pré-existentes podem ver aumentados os seus sintomas de ansiedade. Quem está em tratamento do alcoolismo, por exemplo, está sujeito a complicações por conta do isolamento social forçado. Outro grupo citado pela pesquisa que pode ser impactado é formado por crianças e adolescentes. Com o fechamento das escolas, crianças e jovens tendem a vivenciar a violência doméstica e o abuso infantil, e o próprio isolamento social pode trazer efeitos psicológicos ao longo de muitos anos.

O quinto grupo considera a parcela da população mais pobre e que enfrenta uma série de obstáculos objetivos em função da pandemia. “São pessoas que trabalham na informalidade e que, por esta condição, acabam forçadas a se exporem mais para garantir seu sustento. Isso amplia a sensação de angústia e ansiedade”, descreve a coordenadora do grupo de trabalho de Política Sociais e Educação do Comitê de Dados, Daiane Menezes. Além de analisar as experiências em outras pandemias e olhar para o contexto da saúde mental no Estado, Daiane destaca que o estudo busca sensibilizar os gestores municipais para medidas que podem ser adotadas.

O trabalho menciona que os impactos da pandemia na saúde mental podem perdurar em momentos distintos e apresentar diferentes motivações. Efeitos como ansiedade, depressão, transtorno do estresse pós-traumático, fobias, abuso de álcool e drogas quando não tratados devidamente podem se agravar e afetar o paciente por um longo período. “Nessas circunstâncias, a Covid-19 poderá provocar um efeito em cadeia para além das questões da saúde mental, mas também com impactos sociais e econômicos”, salienta a professora Monika Dowbor, coordenadora da Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).

Enquanto os transtornos de saúde mental não forem enfrentados, mostra a pesquisa, as pessoas vulneráveis aos transtornos poderão apresentar dificuldade de aprendizado, desempenho profissional abaixo da média, comportamento de risco e agravamento de situações de violência, entre outros efeitos.

Internações em queda

Com a participação da Coordenação Estadual de Saúde Mental da Secretaria da Saúde (SES), a pesquisa identificou quedas acentuadas com a chegada dos primeiros casos de Covid-19 tanto em termos de internações por transtornos mentais e comportamentais, como no tratamento clínico dos casos de maior risco. As internações, que se mantinham próximas entre os meses de janeiro e fevereiro comparando 2019 e 2020, apresentam queda nos dois meses seguintes: 2.525 casos em março (-15%) e 735 hospitalizações em abril (-42% na comparação ao mesmo mês do ano passado).

“O risco de contaminação e a ansiedade em relação à possibilidade de internação e óbito já representam um fator de estresse e angústia que pode evoluir para um transtorno mental. Além disso, medidas como o isolamento social impactam as reações emocionais”, descreve a coordenadora de Saúde Mental da SES, Marilise Fraga de Souza.

Setembro Amarelo

Outro indicador importante para mensurar a situação da saúde mental da população gaúcha é o relativo a suicídios. O tratamento clínico em saúde mental em situação de risco elevado de suicídio é a internação para preservação da vida, realizado exclusivamente em hospital geral. Os números desse procedimento, quando comparados os anos de 2019 e 2020, apresentam a mesma tendência de outras informações. Nos meses iniciais, 2020 teve valores mais elevados e, a partir de março, quando da declaração de estado de calamidade pública de Covid-19, houve diminuição nas baixas para casos de maior risco de suicídio.

O Rio Grande do Sul tem a maior taxa de suicídio no Brasil durante os últimos anos e, assim como nas internações, também se verificou queda nos números de tratamento clínico em situação de risco elevado de suicídio. No mês de março, foram 588 registros (-8%) e 198 casos no mês seguinte (-35%), situação que igualmente pode ser associada à pandemia e ao consequente isolamento social associado a ela. O mês de setembro é marcado por ações e campanhas de prevenção ao suicídio no país.

O trabalho trouxe também um diagnóstico sobre a estrutura pública instalada no Rio Grande do Sul para atendimento desses casos. Por meio do SUS, que oferece a atenção em saúde mental, o Estado apresenta 58% da população coberta pelos programas de Saúde da Família (oficinas e demais programas de terapia) e com 194 Centros de Atenção Psicossocial (Caps). Por meio do Sistema Único de Assistência Social (Suas), a população gaúcha tem como referência um total de 594 Centros de Referências (Cras) como principal ponto de atendimento integral à família e no fortalecimento dos vínculos.

Alertas

Um documento produzido pela equipe que atuou na pesquisa analisa algumas iniciativas implementadas durante a pandemia, tanto por parte do serviço púbico como por entidades e universidades, com o objetivo de oferecer novas ferramentas de acolhimento, apoio aos profissionais de saúde e informações de como proceder durante a pandemia e evitar que a situação acarrete maiores transtornos comportamentais. Um dos exemplos é a atuação do Departamento de Perícia Médica e Saúde do Trabalhador (Dmest), vinculado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG), no acolhimento dos servidores públicos impactados perla pandemia, o que incluiu aspectos do teletrabalho.

O texto reforça a importância da população dispor de cuidados individual e integral, assim como de informação confiável. Por fim, o relatório alerta que boa parte da população desconhece os comportamentos de risco e os sinais para a busca de ajuda. “O debate da saúde mental vem crescendo nos últimos anos, mas ainda está longe de ser tratado no mesmo nível de diálogo que os problemas de saúde física. Essa falta de nitidez gera um comportamento de risco generalizado na população, que tende a abusar da medicação como única forma de tratamento válido”, advertem os pesquisadores.

→ Apresentação Saúde Mental e Pandemia

→ Relatório Saúde Mental e Pandemia

SECOM RS

Foto: SECOM RS

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