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Aluna da FURG alerta para a importância das redes de proteção em casos de violência doméstica

Ivete contou, durante encontro de coletivo de mulheres, sobre as agressões praticadas pelo ex-namorado

“A minha história teve um desfecho diferente das histórias de violência doméstica a que estamos acostumados a ver, porque eu estou viva e ele está preso. Mas, infelizmente, nem sempre as histórias terminam assim”, conta, com lágrimas nos olhos, a aluna de Ciências Exatas da FURG Ivete Wathier, de 48 anos.

Ivete é acadêmica do 9º semestre e estuda no campus da FURG de Santo Antônio da Patrulha. Ela foi convidada a relatar sua história no Encontro das Dançarinas, nome em alusão à escritora e feminista Ema Goldman: “Se não puder dançar, esta não é minha luta”, que ocorreu na noite do dia 25 de maio, na cidade de Igrejinha.

Este foi o primeiro encontro de um coletivo de mulheres (em formação), com participação e apoio de lideranças sociais e feministas, setores estudantis sindicais, associativas, escolares, universitárias, onde o Grupo de Empreendedorismo Social da FURG de Santo Antônio da Patrulha (GES SAP) se fez presente no evento.

Ao contar sua história, Ivete fala do terror que passou desde o início das agressões até a conquista da prisão do agressor. ”Primeiro foi a agressão física, depois as agressões psicológicas, as perseguições que não paravam… ele me prejudicou no trabalho, inventou calúnias para que eu perdesse o emprego. Eu precisei colocar medida protetiva para mim e meus filhos e mesmo assim ele não respeitava, é só um papel, eles não respeitam mesmo.” A vítima diz ainda que teve muita dificuldade em contar com o apoio da polícia que, por muitas vezes não queria registrar as ocorrências, porque elas aconteciam em municípios diferentes (por conta das perseguições do agressor). “E é aí que muitas vítimas acabam desistindo de denunciar, pois sentem que não têm apoio”, completa.

A acadêmica disse ainda que ela conseguiu persistir com as denúncias porque teve uma grande rede de apoio. “Foi se formando uma corrente ao meu redor, de pessoas que eu nem conhecia. Tive apoio da universidade, de coletivos, de grupos, de amigos dos amigos, de pessoas que foram me ajudando que até hoje eu nem sei quem são, mas por conta dessas pessoas eu não desisti das denúncias e hoje ele está preso.”

Ivete alerta que no seu relacionamento de 1 ano e 2 meses, antes das agressões começarem, já havia sinais de alerta que ela não conseguia enxergar, mas que hoje ela nota que não era algo saudável para uma relação. “Ele não me permitia sair com algum tipo de roupa, mas falava de uma forma que eu me sentia ‘cuidada’, ia me levar e me buscar na aula e eu achava que era apenas uma forma de me cuidar, mas na verdade, ele estava me cercando e me mantendo sob o poder dele, só que eu não via, pela forma como ele me tratava,” afirma a vítima.

Contar a sua história para outras pessoas, apesar de reviver tudo o que passou, também é uma forma de encorajar outras mulheres a denunciarem seus agressores e visualizarem uma saída desses relacionamentos. “Quero contar a minha história para que outras mulheres possam ter um final feliz como eu tive”, finaliza Ivete.

Violência contra a mulher

Violência contra a mulher é um conceito para definir diferentes tipos de violência sofridos por mulheres, o que inclui desde assédio moral até homicídio. Essas agressões não se limitam apenas ao ato físico, mas a atos lesivos que resultam em danos psicológicos, emocionais, patrimoniais, financeiros, entre outros.

De acordo com o levantamento, 1 em cada 4 mulheres brasileiras acima de 16 anos (24,4%), ou seja, cerca de 17 milhões de mulheres, afirmaram ter sofrido alguma forma de violência durante a pandemia da Covid-19, especificamente no ano de 2021.

Um dos instrumentos mais importantes para o enfrentamento da violência doméstica e familiar contra as mulheres é a Lei Maria da Penha – Lei nº 11.340/2006. Esta lei, além de definir e tipificar as formas de violência contra as mulheres (física, psicológica, sexual, patrimonial e moral), também prevê a criação de serviços especializados, como os que integram a Rede de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, compostos por instituições de segurança pública, justiça, saúde, e da assistência social.

Quem sofre violência doméstica pode procurar ajuda ligando para o número 180, serviço de informações e denúncia da Central de Atendimento à Mulher; funciona 24h por dia e garante o anonimato da vítima. Em casos de emergência, é necessário ligar para a polícia no número 190 ou procurar uma das Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs), que têm caráter preventivo e repressivo, devendo realizar ações de prevenção, apuração, investigação e enquadramento legal dos casos de violência contra a mulher. Vizinhos, conhecidos ou familiares também podem fazer a denúncia.

Denuncie, você não está sozinha!

Secom FURG

Foto: Divulgação FURG

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