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Semana contra a Intolerância Religiosa prossegue até o final deste mês em Rio Grande

O segundo dia da Semana Municipal Contra a Intolerância Religiosa do Rio Grande, realizado ontem (26) à tarde e até às 23h, foi marcado por um importante momento de diálogo e resistência. No Mercado Público, lideranças religiosas, integrantes de terreiros e representantes da comunidade participaram de uma roda de conversa que destacou a importância da oralidade, da educação e da valorização das tradições de matriz africana. A semana é uma ação da Casa Oxum Taladê e da Prefeitura do Rio Grande, com apoio de diversas entidades e instituições de matriz africana da cidade.

Na roda de conversa, a Ialorixá Flávia de Oyá, do Ilé Asé Aloyá Ìfokànrán, compartilhou sua trajetória de mais de quatro décadas dedicadas à religião de matriz africana. “Eu sou neta e filha de santo da Yalorixá Donga de Oyá. Desde antes de nascer, já era esperada por minha mãe de santo, porque Oyá já dizia que eu era filha dela. Tenho 54 anos e cerca de 40 anos de iniciada. Essa é a minha vida e o meu compromisso ancestral”, afirmou.

Durante a roda, a ialorixá destacou também a importância da Biblioteca Vó Donga, iniciativa do Ilé Asé Aloyá Ìfokànrán, que tem como objetivo fortalecer a cultura afro-brasileira por meio da literatura e da preservação do conhecimento ancestral. “As pessoas acham que o povo negro tem apenas uma cultura oral, e a gente vem mostrar que a oralidade e a escrita andam juntas. Os terreiros são espaços afro-políticos e pedagógicos, onde o saber é passado de geração em geração. A biblioteca é o nosso instrumento de visibilidade, uma forma de mostrar que nossos conhecimentos e autores negros precisam ser conhecidos e valorizados”, explicou.

A sacerdotisa, que também é cabeleireira de profissão, lembrou que sua atuação dentro e fora do terreiro faz parte de uma missão de vida: “Eu sou uma mulher, mãe e profissional, mas não negocio a minha religiosidade. Esse é o meu comprometimento ancestral”.

A exposição da Biblioteca Vó Donga apresenta obras e autores e autoras negros fundamentais, como Angela Davis, Ney Lopes, Abdias Nascimento, Conceição Evaristo e Carolina Maria de Jesus, entre outros nomes da literatura e do pensamento afro-brasileiro e internacional.

Quem também participou da roda foi Juliane Soares, 32 anos, mulher de Iemanjá e coordenadora dos projetos do Ilé Asé Aloyá Ìfokànrán, entre eles o Coletivo Minas de Oyá e a própria Biblioteca Vó Donga. Filósofa, professora e gestora formada em Administração, Juliane pesquisa filosofias africanas e defende a potência dos espaços de troca coletiva.

“Eu acredito muito nas rodas de conversa, porque elas permitem que a gente se veja, se escute e se reconheça. Nas filosofias africanas, o conhecimento é circular. Quando compartilhamos de forma coletiva, criamos força, identidade e pertencimento. Nossas histórias, inclusive as de dor e de resistência, também são cultura e precisam ser contadas”, ressaltou.

Juliane destacou ainda o desconhecimento que o país tem sobre o povo negro do Sul e sobre o batuque gaúcho. “O Brasil desconhece a história dos pretos do Sul e o próprio batuque do Rio Grande do Sul. Rio Grande é o berço do parlamento, mas também é o berço do batuque. Precisamos fortalecer nossas narrativas e reconhecer que este é o único estado com um Conselho Municipal do Povo de Terreiro consolidado. Isso é muito significativo e não pode ser invisibilizado”, afirmou.

Pai Nilo

Após o diálogo, a noite seguiu com o Toque para Bará, conduzido pela família do Pai Nilo, tradicional casa de nação de Angola no Município. O ritual marcou o encerramento do segundo dia de atividades e reafirmou a presença, resistência e união das casas de matriz africana.

De acordo com Pai Júnior de Xangô, também conhecido como Júnior Popoti, o toque representou mais um gesto de fé e afirmação cultural. “É muito bonito ver a família do Pai Nilo reunida no Mercado Público, fortalecendo e mostrando que nós seguimos resistentes à intolerância. Desde o início da Semana, temos terreiros de diversas nações presentes, além de representantes de outras tradições religiosas, como pastores, espiritualistas e kardecistas. Essa convivência é o que simboliza o verdadeiro respeito”, destacou.

A Semana Municipal Contra a Intolerância Religiosa segue com atividades culturais, rituais e debates até o fim da semana, reafirmando o compromisso do município do Rio Grande com a diversidade religiosa, o combate ao racismo e a valorização das tradições afro-brasileiras.

Programação para os próximos dias

28/10 – Casa Oxum Taladê:

  • 18h – Saúde da População Negra, com Eliane Menezes
  • 19h – Oluparum: Associação Cultural e Histórica Projeto Benzedeiros, com Milton Puccinelli e Cláudio Saraiva
  • 20h – Mapeamento do Povo de Terreiro, com Chendler Siqueira

29/10 – Casa Oxum Taladê:

  • 18h – As religiões como parceiras no enfrentamento à epidemia do HIV
  • 19h – No Terreiro Também se Aprende: Saberes Ancestrais da Educação – Núcleo de Educação Étnico-Racial
  • 20h – Coleção Batuque | Objetos sagrados aprisionados na Alemanha
  • Exposição da biblioteca Vó Donga – Coletivo Meninas d’Oyá

30/10 – Largo Barbosa Coelho:

  • 18h – DJ MDbeats
  • 19h – Capoeira Mestre Saci | Associação de Capoeira Zumbi dos Palmares
  • 20h – Grupo Kimbra
  • 21h – Projeto Samba do Terreiro
  • Exposição: Associação Casa de Artesanato dos Povos de Matriz Africana

31/10 – Encerramento:

  • C.C Caboclas Jurema Guarani e Mata e Três Estrelas da Marola – Rua Hermínio de Moraes, 123 – Bernadeth
  • 20h – 2ª Roda de conversa sobre Patrimônio Material e Imaterial | Projeto Memórias do Terreiro
  • Casa Oxum
  • 21h – Xirê aos Orixás (Celebração Afroreligiosa)

Assessoria de Comunicação Social Prefeitura Municipal do Rio Grande

Foto: Divulgação

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