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Convergência

Vem chegando o período de eleições e mais uma vez vamos nos ver em uma disputa por nossa atenção, com políticos e marqueteiros nos arremessando ideias soltas como bananas aos macacos. Desde sempre essa loucura de eleger um grupo de pessoas com as melhores ideias para como podemos melhorar nossa vida. E como ratos enganados por veneno no queijo, caímos e caímos e caímos sem cansar, convictos de termos feito o melhor.

Mas eu acredito em seu senso crítico, essa coceira existencial bem guardada sob os escombros da mentalidade capitalista, das dívidas e dos compromissos. Você, tão bem quando eu, sabe que nossa espécie está dando errado, e a política é um paliativo para nosso fim muito mais do que provável.

A disputa de ideias fortalece o intelecto planetário, e eu não me permito duvidar disso A base das democracias é essa disputa. Porém, nos últimos anos, parece que corremos atrás do rabo. As esquerdas e direitas não chegam a um consenso, e o acirramento dessa disputa evidencia que um acordo nunca acontecerá. Então, nós, agentes e pacientes da História, urramos por algo novo e efetivo, soluções e resultados. Para isso, deveremos convergir.

Na mente de cada pessoa viva deste planeta existe um número mínimo de questões que precisam ser urgentemente resolvidas. Do mais básico, saúde, educação, emprego e nutrição são as primeiras a espocar na mente. E nos perguntamos como é possível ainda vermos fome no mundo. Para uma espécie madura, alimentar os vivos seria o mínimo. E seguiríamos tratando os doentes, educando os ignorantes e bem nutrindo a todos. Como espécie, não deveríamos tolerar a atual baixa competência das lideranças em promover esse básico. Que resolvessem suas rusgas e nos devolvessem o que produzimos ao longo de séculos. Somos donos, não objetos de caridade.

O próximo ato convergente seria entender que a vida do próximo é tão relevante quando a sua. Fora os casos de violência deflagrada por problemas mentais, machucar o outro com dolo seria intolerável em um estado convergente, quanto mais disparar armas contra uma vida. Gosto de usar a analogia da metralhadora giratória. Em algum momento, uma pessoa teve a ideia de criar uma arma com capacidade de disparar mais projéteis por segundo. Ora, a energia atômica não começou com intenção de matar. Agora, a metralhadora giratória não deve ter sido pensada para abrir grandes clareiras em florestas. Que espécie de mentalidade desenvolve um aparelho desse tipo? É esse estado de mentalidade que o pensamento convergente precisa combater, ou pôr na mesa para debates, já que ninguém escapa dos ideólogos apaixonados da Guerra Fria.

Tão ou até mais relevante quanto a vida pragmática do trabalho, o molde do pensamento planetário estaria no topo das metas de um mundo convergente. É impossível avançar com a atual capacidade intelectual da população. Desculpem-me pela arrogância, mas o que vemos a nosso redor é uma infantilização política e social, fomentada por produção artística medíocre e de fácil consumo e disputas políticas populistas. Tal estado dificulta o abandono da polarização planetária, que é a contração do nervo na ponta do rabo. Só é possível convergir, entendo que convergir é fazer o que deve ser feito, enxergando o todo e não as partes, como temos feitos por séculos

Fadado ao colapso, o universo do trabalho convergiria para a fruição humana, contra a escravidão voluntária e a contenção dos corpos. No Brasil, a média de horas trabalhadas é quarenta e quatro semanais. Lendo por extenso, não lhe soa absurdo? O trabalho deveria/deve promover a ascensão do humano, não sua alienação da vida. Horas de lazer e estudos são pensadas como promoção unicamente individual. Ledo engano. Uma pessoa descansada, bem remunerada e com sensação contínua de evolução promoverá bem-estar a todos a seu redor. Uma pessoas com tempo para se exercitar desempenhará melhor suas funções e aliviará o sistema de saúde. Pensemos na vida romântica do ser descansado. Pensemos na criação dos filhos dos seres descansados. Pensemos em um problema de trânsito com seres descansados. Para mim, apenas boas impressões tenho dos resultados destes cenários.

Convergir, logo, é fazer o simples que está evidente. Quando pensamos dessa forma, fica ainda mais evidente o fracasso da gestão planetária. Vimos isso em Marx, em Bakunin e em diversos pensadores. Tudo foi tão pensado e longamente analisado, que nossa existência, nossas necessidade humanas básicas, foram ficando para trás na evolução do pensamento. Me parece hora de uma Convergência (pretensiosamente grafada com letra maiúscula), um estado das coisas definitivamente eficiente. “Como?”, “quem?”, “quando?” e “de que maneira?” são perguntas para futuro. Por enquanto, saber que nada está a nosso favor é um começo, e também que trocamos os finais -ismos por terminações verbais como -ar, -er e -ir.

A partir daqui, sabe-se lá.

Pensei a ingenuidade como bem-vinda. E me deixei escrever de coração.

Rody Cáceres

Professor e Escritor dos livros: “A Barata Pacifista” e “O Curandeiro“.

Siga no Instagram: @rodycaceresescritor

Foto: Pixabay

2 thoughts on “Convergência

  • Rosângela

    Então… Eis-me aqui rendida. Leio para me sentir preenchida por algo novo mas teu texto produziu efeito contrário. Enquanto lia , fui experimentando uma sensação estranha _ um certo esvaziamento. É como se fosse abrindo espaço para o ineditismo. Senti medo disso. Era essa a intenção???

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    • Rody Cáceres

      Nunca pensei sobre a intenção. Foi um tiroteio de ideias sobre algo que penso faz muito tempo. Chamo de Convergência. Por enquanto, é só o que sei. 😋😍

      Resposta

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