Inspira

Maresia

Vou para a varanda da cabine e me apoio na cerca que me impede de cair no mar. Estamos navegando pela primeira vez e eu nunca tinha me sentido tão bem e tão mal ao mesmo tempo. Dizem que quem nasce perto do mar não enjoa nele ou dele. É mentira.

Pagamos mais caro pela cabine especial, que fica localizada no décimo andar do navio (eu nunca pensei que navios tivessem andares feito os prédios; no que eu estou, há doze) e tem alguns mimos que os outros quartos não possuem.

Infelizmente, não garante falta de maresia.

Quando atravessa as ondas, o navio balança para a esquerda e para a direita. Você consegue sentir o movimento, principalmente se está em pé. No momento, estou sentado numa cadeira externa, sentindo meu corpo ser embalado com o carinho exagerado de uma mãe que carrega o filho no colo incansavelmente, sem deixar a criança engatinhar.

No início, eu tinha medo do navio afundar. Felizmente, passou; um navio do tamanho do Monarch demoraria três horas para desaparecer, e até lá todos já estariam salvos ou pisoteados por outros passageiros.

Meu corpo se rende ao embalo enquanto olho para o tapete azul. A canção de ninar que o navio canta tem o som das ondas.

Adoro essa varanda. Tenho esperanças de ver uma baleia, um golfinho ou um monstro, se isso for possível. Enquanto adormeço, penso que se o navio afundasse, eu não receberia um enterro, pois meu corpo estaria perdido no fundo do mar.

Autora: Ingrid Contreira/Inspira

Foto: Pixabay

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