Inspira

Dezesseis pila

Das coisas que escuto e conto para vocês. Hábito de fofoqueiro, digo, cronista sedento por assunto.

Aconteceu com uma amiga: por anos trabalhou em um local de cultura, vendendo livros no setor infantil, atendendo filhos, netos, mães, pais e avós. De sempre, comentava sobre tal vó que chorava muito para dar livros à neta. “Esse é caro, pega um mais baratinho’ se ouvia muito. Ela oferecia o que tinha de melhor pelo menor preço. E sempre batia e meta.

Das andanças dessa vida, foi trabalhar em uma pet shop, mesmo saudosa dos tempos de livraria, mas feliz por reencontrar, de vez em quando, antigos clientes. Numa dessas, entrou na loja a vó aquela, fuinha e mão de vaca. “Oi, guria! Que bom te encontrar aqui!”. Agora que não vendo nada, pensou a amiga. Mas, via de regra, o atendimento era excelente. “E a neta, como vai?” “Tá tudo bem. Lendo muito, como sempre. Olha, eu tenho um cachorrinho lindo e quero umas coisas pra ele”. Tem nada barato, quis dizer a amiga, mas só pensou.

A vó começou a puxar coisas e coisas. Isso para quilo, aquilo para outro e chegou a setecentos reais. Setecentos reais. Repita comigo: setecentos reais.

Pasma, a amiga quase não fechou a boca durante o atendimento. Pensou em oferecer algo para a neta roer, só para experimentar a “pãodurice” da vó. Teve medo.

No final do expediente, a amiga levou cinquenta pila de revistinhas para a filha. Ela também gosta de bichos, não se engane.

Rodrigo Cáceres Lopes – Escritor/Colaborador Rio Grande TEM

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