Cartas- O poeta e o biólogo
Querido amigo,
ontem havia pequenas borboletas rosas-de-luto pousadas sobre minha escrivaninha, perto da máquina de escrever. Sei que eram rosas-de-luto, naturalmente, por causa da tua enorme coleção que costumava ficar na parede do escritório; eventualmente aprendi algo sobre insetos em geral. Aquele espaço em branco é a essência da sensação que deixaste com tua partida: apesar de tudo parecer dentro da normalidade, a falta de um elemento importante é indisfarçável. O mesmo pode-se dizer da falta que sinto do gato que insististe em levar – aliás, o dono da pensão deixou o bichano ficar? Espero que sim (assim como espero que não estejas estudando o felino, pois Romeu é extremamente sensível neste aspecto).
O poeta que ficou por aqui está curiosamente produtivo, ouso dizer. Pilhas e mais pilhas de folhas soltas e caderninhos estão lentamente tomando conta dos móveis todos, algumas páginas com grossas machas de café ou chá preto. Estarias à esta altura absurdado com a desordem de nosso pequeno apartamento, porém preciso trabalhar. O aluguel tornou-se mais caro, agora que o pago sem ajuda, então preciso produzir conteúdo suficiente para satisfazer meus editores que, como bem sabes, são praticamente insaciáveis. Talvez meu próximo conto seja inspirado neles – vampiros!
Mande notícias da expedição, com riqueza de detalhes! Espero que possas me escrever em breve.
Com carinho,
teu amigo.
Autora: Valentina Pinheiro/Inspira
Foto: Pixabay